segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nossa Singela Homenagem


"...  Imediatamente uma estrada de luz, à maneira de ponte levadiça, projetou-se do Céu, ligando-se ao castelo prodigioso, dando passagem a inúmeras estrelas resplendentes.
Em alcançando o solo delicado, contudo, esses astros se transformavam em seres humanos, nimbados de claridade celestial.
Dentre todos, no entanto, um deles avultava em superioridade e beleza.  Tiara rutilante brilhava-lhe na cabeça, como que a aureolar-lhe de bênçãos o olhar magnânimo, cheio de atração e doçura.  Na destra, guardava um cetro dourado, a recamar-se de sublimes cintilações...
...
O apóstolo que seria Allan Kardec, sustentando Napoleão nos braços, conchegou-o de encontro ao peito e acompanhou-o, bondosamente, até religá-lo ao corpo de carne, no próprio leito.
...
Em 03 de outubro de 1804, o mensageiro da renovação renascia num abençoado lar de Lião..."

É assim que, tomando de empréstimo a belíssima descrição do Irmão X, em Cartas e Crônicas, reproduzimos suas singelas palavras para homenagear o Mestre de Lião, o Codificador do Espiritismo, cujo nascimento na Terra, sob a roupagem carnal de Hippolyte Léon Denizard Rivail, há 207 anos, foi representado por uma luz de especial fulgor que permaneceria acesa para todo o sempre no coração da Humanidade.

Merci beaucoup Monsieur Rivail!

Somos-te eternamente gratos, Mestre Allan Kardec!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Estágio atual da Humanidade Terrena

O (des)temor da morte



                   O número cada vez maior de suicídios e eutanásias praticados no mundo hoje em dia, mostram que as religiões tradicionais falharam em suas pregações ao longo dos séculos, ora apresentando um quadro de desesperança para a maioria dos seus seguidores, criaturas ainda extremamente imperfeitas, cheias de culpas e maus comportamentos;  ora alimentando a ilusão das bem-aventuranças como consequência da prática de atos flagrantemente atentatórios aos princípios da lei divina.  Ignorando ser o homem um Espírito encarnado, que ao retornar ao mundo espiritual se vê inexoravelmente diante da realidade indisfarçável, muito diferente daquela que lhe foi transmitida pela sua religião, e, descrente, uma vez na carne novamente, passa a considerar a vida sem sentido e a morte, sem consequências.
                   O jornal francês Le Figaro, de 02 de novembro de 2007, do dia de finados, portanto, publicou um pequeno artigo intitulado “Avez-vous peur de la mort?” (Você tem medo da morte?).  Como resultado de uma enquete realizada com os seus leitores, 54% deles disseram não ter medo da morte, enquanto 46% responderam afirmativamente à pergunta do jornal.  Ainda assim, o jornal dizia que os primeiros (54%) apresentavam todos os componentes do estoicismo.  “Não se pode temer o que é inelutável”, disse um leitor-internauta;  já outro, com ares de mais consciente da realidade, disse: “Temer a morte, é temer a si mesmo. Deve-se morrer para renascer.”  Um terceiro, lembrou Victor Hugo:  “Je sais que la tombeau qui, sur les morts se ferme, ouvre le firmament...” Todavia, alguns não temem a morte, mas sim alguns aspectos indesejáveis da própria existência.  Para estes, morrer não é nada; o que lhes é insuportável mesmo é a idéia da degradação, da decrepitude e da dor.
                   Isto vem bem a propósito, quando uma onda de suicídios e de morte por eutanásia varre a Europa, numa tendência crescente e preocupante.  Por um lado, as pessoas parecem não temer mais a morte, entregando-se em seus braços sem cerimônias.  Por outro lado, as doenças sem cura, o medo da solidão e a própria cultura materialista fazem algumas pessoas preferirem a morte a um fim de vida “sem significado, inútil”, conforme dizem.
                   No dia 14 de julho de 2010, o jornal londrino Evening Standard noticiou a morte de um casal importante na sociedade britânica, ele, considerado um dos mais extraordinários maestros britânicos de todos os tempos, e ela, sua assistente, ex-bailarina, coreógrafa e produtora de TV.  Ele, de 85 anos, estava quase cego e perdendo gradualmente a audição;  ela, de 74 anos, sofria de um câncer terminal.  Depois de 54 anos de vida conjugal, ele decidiu que não poderia viver sem ela, e então procuraram a clínica suíça Dignitas, de Zurich, para a prática da eutanásia, ou suicídio assistido como querem alguns, ingerindo overdoses de barbitúricos que puseram fim às suas existências terrenas.
                   Embora a atuação dessa clínica venha gerando controvérsias, o fato é que pelo menos 115 cidadãos britânicos já usaram os seus serviços com a mesma finalidade.  Assim também, segundo se sabe, cidadãos alemães, franceses, holandeses etc., e mesmo cidadãos suíços, desesperançados, por várias razões, têm posto fim às suas existências, conscientemente, pagando por isso, mas entendendo que é a única atitude digna que lhes resta diante do próprio destino.  Por outro lado, um radialista da rede BBC de rádio, está em campanha para que os legisladores britànicos aprovem uma lei que permita que a eutanásia seja praticada aqui mesmo em Londres, para que os ingleses não precisem deixar o seu país.  Seu próprio pai contraiu demência na última década de vida e “poderia ter sido poupado do sofrimento por que passou se contasse com o recurso da eutanásia legal”, conforme ele declarou ao jornal The Sunday Times de março último.
                   Ora, a notável Dra. Elisabeth Kubler-Ross, em uma de suas obras, chamada “Sobre a Morte e o Morrer”, citada por Francisco Cajazeiras, em “Eutanásia (enfoque espírita)”, ensina:  ”Aprendemos que a morte em si não é um problema para o paciente, mas o medo de morrer nasce do sentimento de desesperança, de desamparo e de isolamento que a acompanha.”.  É o que se depreende, de fato, dos últimos casos noticiados na imprensa londrina.  E é curioso notar que em uma outra de suas obras, “O Túnel e a Luz”, relata o processo por que passou sua mãe, vítima de um AVC, e a forma como ela lidou com a problemática:  “Agora, se eu tivesse dado uma overdose à minha mãe, ela teria tido que voltar, teria tido que começar do zero e aprender a receber.  Talvez ela tivesse tido que nascer com uma espinha bífida ou nascer paralisada, incontinenti, ou algo assim...”  E ela confessa:  “Pessoalmente, sou 150% contra a eutanásia, pois não sabemos porque as pessoas têm que passar por aquela determinada lição.”  Como se vê, palavras de grande sabedoria.
                   Infelizes daqueles, pois, que optam pela chamada “boa morte”, o que significa a morte serena, suave, sem dor, na concepção puramente humana.  Fazem-no por absoluta ignorância dos desígnios da Providência Divina e das leis naturais.  Desconhecem que, buscando essa “saída digna” para as suas vidas, arrostarão o desapontamento e o prosseguimento do seu quadro de dor na vida espiritual.  “... guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro”, diz-nos o Espírito São Luís, em magistral ensinamento (ESE, cap. V, n. 28).

Vivendo num Universo dual

ALMAS GÊMEAS


                   A realidade mostra-se múltipla em tudo no Universo e conosco não é diferente, pois vivemos sob o império da lei de sociedade, uma lei de conjunto, de variedade, de relação.  Sozinhos nada realizamos, porque não estamos perfeitos ainda. E sem chegarmos à perfeição não somos absolutamente auto-suficientes.  Como homens, isto é, Espíritos em meio à evolução, apresentamo-nos tal qual nos fizemos.  Faltam–nos faculdades, recursos, experiências, virtudes, conhecimentos.  Muita coisa ainda permanece latente em nós, muito mais do que já pudemos desenvolver.  Necessitamos uns dos outros, sem nenhuma sombra de dúvida.

                        E no início, como éramos?  Se a lei é de sociedade, de relação, teremos sido criados aos pares?  Éramos um só corpo e dois seres, como no mito platônico dos andróginos?  Teremos, então, sido divididos e afastados da nossa metade?  Passamos a viver experiências isoladas, encontrando-nos vez por outra?  E a mensagem contida no mito de Eros, que nos diz que buscamos no outro aquilo que nos falta?  Como explicar o conceito das metades eternas?  Existem, de fato, almas gêmeas?  Por que essa idéia fascina tanto o ser humano?  

                        Bem, Emmanuel, no lirismo de suas reminiscências, marcou nossos corações com um inesquecível poema, que compusera em sua juventude, dedicado ao coração amado de Lívia, com todo o ardor romântico do latino.  E iniciou-o assim:  “Alma gêmea de minh’alma, flor de luz da minha vida...”  Essa frase enche de inspiração a fantasia dos apaixonados e faz pensar os mais racionais.  Quem é, afinal, nossa alma gêmea?  Por que tantas uniões infelizes?  Por que tanta tristeza quando alguma coisa não vai bem em nossa vida afetiva?  Por que vivemos a pensar que haverá alguém especialmente destinado a nos fazer absolutamente feliz?

                        Em verdade, ninguém pode ser a metade de outrem. O Espírito é um ente metafísico, e como tal não se divide (L.E., perg. 92).  Somos também completos em nós mesmos, porque marcados pela perfeição divina.  Tudo de que necessitamos para atingir as cumeadas da evolução espiritual está em nós, e não fora de nós.  O que encontramos fora de nós, genericamente falando, são os estímulos para o auto-conhecimento e o auto-desenvolvimento.  Cabe-nos o esforço, pelo trabalho permanente, de desenvolver esse potencial divino. 

                         Somos perfeitos em essência e a cada encarnação exteriorizamos um tanto dessa perfeição.  Mas, como o iceberg, cuja maior parte permanece submersa, temos desenvolvido apenas uns dez por cento do nosso verdadeiro potencial, enquanto a maior parte deste repousa intocada no leito profundo de nossa própria individualidade e, portanto, submersa  em nós mesmos.  Externá-la é a nossa meta;  tempo e oportunidades é o de que necessitamos para tanto.

                        Somos, uns em relação aos outros, quando muito, Espíritos simpáticos, marcados por maior ou menor afinidade.  Ou estamos em perfeita concordância de tendências com alguém e nos identificamos como Espíritos afins, ou não estamos e não somos, ainda.  De uma forma ou de outra, conservamos sempre nossa individualidade, que restaria comprometida se precisássemos de outro ser para nos completar.  Somos seres completos em essência, e essa é nossa situação permanente.  Consideremos, então, como seria triste e desolador se precisássemos ser completados por alguém em especial e este alguém estivesse ausente de nossas vidas.

                        Vivemos procurando a felicidade, imaginando-a nas coisas do mundo, na riqueza, na posse de bens de consumo, no poder, na fama.  Quando não, achamos que a felicidade está no ser amado, e passamos a exigir dele que nos faça senti-la.  Depois de algum tempo alimentando essa ilusão, descobrimos que, tendo tudo o que almejamos, não somos verdadeiramente felizes.

                        Quantos pares não se encontram, em circunstâncias aparentemente casuais, e logo se identificam como “almas gêmeas”:  vivem intensamente o seu romance, firmam compromisso e passam a conviver no dia-a-dia.  Cedo ou tarde, porém, descobrem-se muito diferentes um do outro.  Vêm os conflitos, as decepções, as frustrações, as desilusões, os sofrimentos, a separação... 

                        Kardec investigou a questão com os Espíritos que lhe proporcionaram as respostas insertas em O Livro dos Espíritos, e eles lhe disseram que “não existe união particular e fatal entre duas almas” (perg. 298), desfazendo assim a idéia de que um Espírito estivesse destinado a viver ao lado de um outro em particular, eternamente.  Na verdade, vivemos num plano de lutas e progresso contínuo, e somos sempre atraídos para a situação que necessitamos vivenciar, pois “da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta a felicidade completa”, disseram os Espíritos em complemento à mesma resposta.

                         Deus, então, nos criou e dotou-nos de tudo o que é necessário para o nosso desenvolvimento e a nossa felicidade real.  Mas, suprema maravilha da Criação, fez com que nos sentíssemos atraídos uns pelos outros, que nos aproximássemos e convivêssemos para que pudéssemos desenvolver o tesouro que guardamos cariciosamente no mais profundo de nossa alma.  E um dia, totalmente libertos do jugo da matéria, agradeceremos ao Pai esse sublime desejo de permanecermos ao lado de alguém que tanto amamos, durante algum tempo, para compreendermos o que é de fato o Amor e afinal alçarmos “sozinhos” o voo alcandorado do Espírito para as regiões indescritíveis da luz e da paz infinitas, reconfortando-nos no regaço divino.

Jesus na Acústica da Alma

O Evangelho no Lar



        Entre as práticas doutrinárias, há uma que pode  - e deve – ser realizada no ambiente doméstico, como Jesus ensinou, quando hospedado temporariamente na casa de Simão Pedro.  É o Evangelho no Lar.

        Não devemos fazer dele, porém, uma prática ritualística, nem mesmo mística, mas sim como uma disciplina ou um hábito saudável, através do qual nos encontramos semanalmente com Jesus e com os Bons Espíritos.
        O Evangelho no Lar também não deve ser transformado em sessão mediúnica, para que algum dos Espíritos presentes se manifeste através de um dos médiuns participantes da reunião.
        Trata-se, na verdade, de uma reunião puramente familiar, como se estivessem todos numa sala de aula, em que o Mestre é Jesus;  o livro de estudos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e os alunos, os Espíritos presentes, encarnados ou desencarnados.
        O Evangelho no Lar é um fator de higienização da atmosfera espiritual do lar, de harmonização e equilíbrio dos participantes, e um antídoto poderoso contra as más influências espirituais e a obsessão.
        Reproduzimos a seguir algumas orientações da Federação Espírita do Estado de São Paulo para a sua realização:


PRINCIPAIS FINALIDADES DO EVANGELHO NO LAR


01.   Estudar o Evangelho à Luz da Doutrina Espírita, a qual possibilita compreendê-lo em “espírito e verdade”, facilitando, assim, pautar nossas vidas segundo a orientação do Mestre;
02.   Criar em todos os lares o hábito salutar de reuniões evangélicas, para que despertem e acentuem o sentimento que deve existir em cada criatura;

03.   Pelo momento de paz e de compreensão que o Evangelho no Lar oferece, unir mais as criaturas, proporcionando-lhes uma vivência mais tranquila;

04.   Tornar o Evangelho melhor compreendido, sentido e exemplificado, no lar e em todos os ambientes;

05.   Higienizar o lar pelos nossos pensamentos e sentimentos elevados, permitindo assim mais fácil influência dos Mensageiros do Bem;

06.   Ampliar o conhecimento literal e espiritual do Evangelho para oferecê-lo com maior segurança a outras criaturas;

07.   Facilitar, no lar e fora dele, o amparo necessário para enfrentar as dificuldades materiais e espirituais, mantendo operantes os princípios da oração e da vigilância;

08.   Elevar o padrão vibratório dos componentes do lar, a fim de que ajudem, com mais eficiência, o Plano Espiritual na obtenção de um mundo melhor.


ROTEIRO PARA A SUA REALIZAÇÃO


          Escolher um dia da semana e uma hora daquele dia, no qual normalmente já nos encontramos em casa.

          Observar rigorosamente esse dia e e essa hora da reunião, para facilitar a assistência espiritual.

          Escolher o local da casa em que nos sentirmos mais confortáveis para realizar a reunião

          Convidar todas as pessoas da família que ali residem.  Se os demais não puderem, ou não quiserem, participar da reunião, não nos preocupemos.  Podemos realizá-la sozinhos, do ponto de vista físico, na certeza de que Jesus se fará presente, através de seus nobres mensageiros.

          Início da reunião.  Uma prece simples e espontânea em que, mais que as palavras, tenham valor os sentimentos, não devendo, portanto, ser decorada.

          Leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Deve-se fazer a leitura metódica e sequente do livro, desde o Prefácio, seguindo-se a Introdução e assim por diante, e não abri-lo ao acaso.  Ler um pequeno trecho semanalmente (na semana seguinte, continuar exatamente do ponto em que se parou).
          Comentários.  Fazer comentários breves sobre o trecho lido, buscando sempre a essência dos ensinos de Jesus, trazendo-os para a atualidade, para a sua aplicação em nossa vida diária.  Todos os presentes poderão participar desta parte, dizendo o que entenderam do trecho lido.
          Vibrações.  Após a leitura do Evangelho e dos comentários, passar às vibrações, que são doações de amor, energia que parte de nós na direção daqueles que desejamos beneficiar.  Segue um modelo de vibrações:

          Vibrar pela fraternidade universal e pela paz e equilíbrio de toda a humanidade;
              Vibrar pelos governantes das nações e pelos que trabalham na elaboração das leis;
              Vibrar pelos Espíritos que estão reencarnando com tarefas definidas;
              Vibrar pelos trabalhadores do bem;
              Vibrar pela implantação e vivência do Evangelho em todos os lares da Terra;
              Vibrar pelo nosso lar, mentalizando paz, harmonia, saúde e muita luz;
              Vibrar para que o Mestre Jesus abençoe a nossa família, os presentes, parentes e amigos, dando-nos
                   o entendimento e o espírito de compreensão e cooperação e aumentando o amor em nossos corações;     
              Observar alguns segundos de silêncio, nos quais procuramos conversar mentalmente com Jesus, 
                   fazendo-lhe o pedido que deseje fique em segredo.

          Encerramento.  Novamente aqui, uma prece simples e espontânea, agradecendo pelos benefícios recebidos.

          Pode-se escolher uma pessoa diferente para cada parte do roteiro.  Assim, um fará a prece inicial, outro a leitura, outro as vibrações e outro a prece de encerramento, se tantas pessoas estiverem presentes.
          O tempo médio da reunião deve ser de 20 a 30 minutos, no máximo. Observar sempre a disciplina do horário, para que tenhamos o suporte da Espiritualidade Superior durante todo o tempo da reunião.


SUGESTÕES

Após a leitura de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, pode-se ler livros de autores idôneos que forneçam subsídios para os comentários evangélicos, principalmente os livros de Emmanuel, como ‘Fonte Viva’, ‘Pão Nosso’ etc.  Mas, não substituir ‘O Evangelho’ por esses outros livros.

Recomenda-se colocar um copo (ou uma jarra) d’água para que os Espíritos fluidifiquem durante a reunião.  Se houver alguém enfermo na família, pode-se colocar um copo à parte para essa pessoa.

Não se deve suspender a prática do Evangelho no Lar em virtude de pessoas que venham nos visitar;  antes, deve-se convidá-las para participar da reunião.  Se não o desejarem, pede-se que aguardem até que a reunião seja encerrada.  Se alguém ligar durante a reunião, deve-se pedir igualmente que aguarde até que retornemos a ligação.  Só se suspende a reunião em caso de uma viagem prolongada, avisando-se a Espiritualidade na última reunião antes da viagem.

Evitar alimentar polêmicas, assim como conversações menos edificantes, durante as reuniões de estudo, mantendo-se o clima fraterno e de equilíbrio durante todo o tempo. Evitar também comentários de desdouro em relação a quaisquer religiões ou pessoas. 

Lembrar sempre que a reunião é de estudo sério, reflexão e auto-conhecimento, devendo-se manter os pensamentos elevados e a boa-vontade para com todos.

Havendo crianças na família, incentivá-las a participar da reunião, sem nunca forçá-las, porém.  Permitir que elas façam comentários e perguntas, e que colaborem nas preces, a seu modo.  Recomenda-se ter livros de história infantil à mesa, de preferência espíritas, despertando nelas o interesse e o gosto pelos ensinos de Jesus.

IMPORTANTE:  Lembrar que, se o Evangelho é do lar, ele é feito para harmonizar o ambiente onde esteja sendo realizado, e não propriamente as pessoas que dele participem.  As pessoas que morem em outro local e que venham a participar de reunião em lar alheio, devem estar cientes de que, uma vez entendido como ele se processa, devem passar a realizá-lo em seus próprios lares, a fim de beneficiá-los da mesma forma.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A loucura sob o velho prisma

Victor Hugo e o Espiritismo

        O jornal francês Libération publicou, há tempos, matéria relativa ao envolvimento do grande gênio literário da França com o espiritismo, enfocando os fenômenos das mesas girantes ocorridos na ilha de Jersey, no Canal da Mancha, quando do exílio do extraordinário beletrista.  Os fenômenos começaram quando chegou à ilha a Sra. Delphine de Girardin, “ancienne muse de la Patrie”, trazendo do continente a novidade, que já era moda nos salões chiques de Paris.  “Teria o grande Hugo enlouquecido, aos 52 anos de idade?  A atmosfera viva do aequipélado anglo-normando teria provocado nele um delírio teológico?”, pergunta o articulista, ao tomar conhecimento do Livre des Tables, publicado em 1923, muito tempo após a morte de Hugo, e onde ele descreve parte do ocorrido em Jersey.
        A análise publicada pelo prestigioso diário francês mostra como o ser humano continua cético e distante das coisas do espírito.  O fato descrito no artigo jornalístico é de conhecimento público, consta de todas as biografias hugonianas e não tem absolutamente nada de extraordinário.  O fenômeno das mesas girantes, ou mesas falantes, ou mesas comunicantes, como se queira dizer, era muito comum nos anos 50 do século XIX.  E foi através dele que o Codificador, Allan Kardec, foi levado ao estudo das manifestações dos Espíritos e à elaboração das cinco obras básicas do Espiritismo, além da Revista Espírita e outros textos deixados por ele ao desencarnar.
        Igualmente, o encontro do Grande poeta e escritor francês com a Sra. Delphine de Girardin vem descrito por J. Malgras, em Os Pioneiros do Espiritismo, que reproduz parte das sessões mediúnicas realizadas na ilha de Jersey.  Ela foi uma escritora de renome, no cenário cultural francês do séc. XIX, e seu salão era frequentado por grandes estrelas literárias, como Théophile Gautier, Honoré de Balzac, George Sand, Alexandre Dumas, pai, Alfred de Musset, Alphonse de Lamartine e o próprio Victor Hugo, entre outros, além do compositor de música erudita Franz Liszt.  Ela chegou a Jersey no ano de 1853 e ali ficou por uns poucos dias, o suficiente para iniciar Victor Hugo no contato com a espiritualidade e permitir-lhe comunicar-se com o Espírito Léopoldine, filha muito amada do escritor, desencarnada em 1843 juntamente com seu marido, num naufrágio.
        O grande literato e poeta, dramaturgo e homem público, acadêmico e intelectual, que escreveu dezenas de obras, entre elas Les Misérables e Notre-Dame de Paris, é considerado um dos maiores gênios da literatura francesa de todos os tempos.  Era reconhecido e admirado pelo povo francês e seu funeral foi seguido pelas ruas de Paris por mais de dois milhões de pessoas.  Eis o porquê do inconformismo do articulista do Libération, que ignora, certamente, que os outros grandes ícones da literatura francesa, que frequentavam o salão da Sra. de Girardin, acima citados, tinham lá também sua intimidade com os Espíritos.  E o que dizer dos eminentes homens de ciência, como Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Charles Richet e Gustave Geley? Como entender o interesse do Coronel Albert de Rochas pelos fenômenos paranormais e pelo Espiritismo?
        Enfim, que mal há em ser médium, ou comunicar-se com os Espíritos, se isso é a coisa mais natural de todas as culturas do mundo, em todas as épocas.  Sabe, acaso, o articulista que o Codificador da doutrina foi um grande pedagogo, discípulo de Pestalozzi, e que o Espiritismo nasceu e floresceu justamente na capital cultural do mundo, a sua Paris, em meados do séc. XIX?  Sabe ele que o movimento espírita colocou figuras muito ilustres da sociedade parisiense da época em torno daquela mesma espécie de mesa?  Certamente não!  Daí sua crítica acerba, seu inconformismo, sua ignorância... 
        Esse procedimento, porém, não é um privilégio da imprensa francesa, que trata assim com desprezo e preconceito um dos maiores vultos da literatura mundial.  O jornal cearense “A República”, que circulou no dia 13 de abril de 1900, assim se referiu em face da morte de um dos mais proeminentes filhos da terra, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, que desencarnara dois dias antes, no Rio de Janeiro, sendo uma figura de grande destaque no cenário nacional:
          “...  Espírito lúcido, com a melhor educação acadêmica, todavia, não deixou de ter as suas quedas.  Da escola ultramontana, em princípio, foi descendo na escala das crendices humanas, até declarar-se espírita, nos últimos dias da sua existência, já materialmente enfraquecida pelos insultos da idade, logo intelectualmente decaída.”
        Naqueles tempos, de fato, o Espiritismo era visto como uma doutrina do demônio, prática de ignorantes, crença desprezível e genericamente enquadrada como crime pelo Código Penal da República.  Além do que, a Doutrina ainda não tinha conquistado o respeito de toda a nação e de todos os segmentos da sociedade brasileira, como acontece hoje em dia.  O forte poder da Igreja Católica daqueles tempos provocava reações apaixonadas de uma grande fatia da população do país, e influia decisivamente na imprensa nacional.
        Por isso, acreditava-se que o Espiritismo, a par de “ser” uma prática proibida por Moisés, há mais de 3.000 anos (Dt 18:10-11), era capaz de produzir a loucura nos praticantes da mediunidade.  Todavia, o próprio Kardec esclarece que a loucura advém mais de uma tendência que o indivíduo traz consigo e menos de qualquer crença a que se dedique o médium:
        “Não produziria mais do que qualquer outra coisa, quando a fraqueza do cérebro não oferecer predisposição para isso.  A mediunidade não produzirá a loucura, se esta não existir em germe.”  (L.M., item 221, p. 5)  
        A verdade é que o preconceito contra o Espiritismo já foi muito mais acentuado do que o é na atualidade.  Que o diga Sir William Crookes, ele mesmo um cético que resolveu estudar o fenômeno mediúnico para provar que era uma fraude.  Cientista britânico de primeira linha, porém, acabou por converter-se à Doutrina, após exaustivas experiências e estudos.  A sociedade científica do Reino Unido, após a declaração pública do grande expoente da química e da física da época, cogitou que deveria cancelar sua filiação à Royal Society, o que não se verificou.
        Muitos anos após o incidente, numa entrevista à The International Psychic Gazette, o laureado cientista, descobridor do elemento químico tálio, declararia:  “Nunca tive jamais qualquer ocasião para modificar minhas ideias a respeito.  Estou perfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias.  É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro.”  Talvez por essa razão nunca tenha sido agraciado com o Prêmio da Fundação Nobel, de Estocolmo, o que certamente ainda mais o engrandeceu como Espírito.
        Por razões semelhantes, outras figuras notáveis do mundo das ciências terrenas, como Alfred Russel Wallace, naturalista, geógrafo, biólogo e antropólogo, Oliver Joseph Lodge, físico e escritor, Lord Rayleigh, matemático e físico, todos britânicos, e o norte-americano William James, psicólogo, filósofo e com formação em medicina, foram bafejados pelo preconceito dos seus pares, a despeito de suas grandes produções no âmbito científico.
        Albert Einstein teria dito certa vez que é mais fácil dividir um átomo do que quebrar um preconceito.  Ele mesmo, por sua religiosidade e visão racional de Deus, é tido como um místico, assim como Carl Gustav Jung e muitos outros.  O grande cientista alemão, porém, disse certa vez que “no campo daqueles que procuram a verdade, não existe nenhuma autoridade humana.  Todo aquele que se fizer de magistrado encontrará imediatamente a risada dos deuses.”  Sábias palavras, pois o próprio Mestre Jesus foi claro ao dizer:  “Não julgueis para não serdes julgados;  porque com o juízo com que julgardes sereis julgados”...  (Mt 7:1).  "Magister dixit!"


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sexo e Vida

O SEXO SEGUNDO O ESPIRITISMO

 
                   Falar do sexo ou da sexualidade, sem se sentir incomodado pelo despertar de experiências atávicas, havidas nos tempos mais remotos em que o homem ensaiava para a racionalidade, agindo quase que totalmente sob o império de impulsos primários, ou sem manifestar alguma contrariedade pelos distúrbios e anomalias que o maculam, é um exercício de equilíbrio e bom senso, e um sinal de elegância e sabedoria.

                   O tema é dos mais palpitantes,  embora o homem poucas vezes o aborde com nobreza, dado o seu grau de comprometimento com a respectiva problemática.  E se os ecos daquelas experiências dormitam nos abismos do nosso inconsciente, cada vez mais distantes da nossa realidade presente, ainda permanecemos atrelados às energias instintivas de que somos indiscutíveis portadores, de tal sorte que, evolutivamente falando, pouco avançamos nesse delicado campo, desde os reinos inferiores da Natureza até os dias atuais.

                   Afinal, o que é o sexo?  Como o ser humano o vê?  Que problemática ostenta?  É o sexo pecado?  Qual a sua finalidade?  Os Espíritos têm sexo?  Eles se reproduzem?  Como devemos encarar suas anomalias?  O que é normal, o que é anormal, do ponto de vista espírita?  Pode-se dizer de fato que “a carne é fraca”?  Deus criou Espíritos masculinos e Espíritos masculinos?  Quem são os Espíritos que encarnam como homens e como mulheres?  Estas são algumas das questões que procuraremos responder ao longo desta ligeira abordagem espírita.  

                   Emmanuel, em “Sexo e Vida”, cap. I, ensina que “sexo é espírito e vida, a serviço da felicidade e da harmonia do universo”.  De início já observamos que o sexo não é de natureza física, corpórea ou material.  Ele é espiritual na sua essência e espiritual na sua finalidade.  Por isso, André Luiz, em seu magnífico “Evolução em Dois Mundos”, cap. XVIII, esclarece que “a sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa”, para arrematar logo a seguir que “o sexo é, portanto, mental, em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime...”

                   Portanto, o homem comete erro básico ao ligar o sexo, assim como o erotismo e as práticas sexuais, exclusivamente à zona genital, orgânica, fisiológica.  É através dela, porém, que ele se manifesta de modo evidente, no dia-a-dia da experiência humana, haja vista o seu caráter reprodutivo.  Joanna de Ângelis, nesse aspecto, nos diz que, “fonte de vida, o sexo é o instrumento para a perpetuação da espécie, não sendo credor de qualquer condenação.  O ultraje e a vulgaridade, a nobreza e a elevação amorosa mediante as quais se expressa, dependem do seu usuário e não da sua função em si mesma.”

                   Em “Após a Tempestade”, cap. 6, ela dirá mais:  “Santuário da procriação, fonte de nobres emulações e instrumento de renovação pela permuta de estímulos hormonais, a sexualidade tem sofrido a agressão apocalíptica dos momentos transitórios da regeneração espiritual que se opera no planeta”.  Aqui, ela pinta o quadro real da atualidade do mundo em que o homem desfigura completamente a função do sexo, banalizando-o e embrutecendo-o ao extremo por praticá-lo sem a dignidade do amor.  Que o sexo gera prazer igualmente, não há dúvida, mas não esse prazer vulgar que mantém o homem ainda tão próximo da animalidade.  Praticar o sexo apenas para sentir-lhe o prazer fugaz é apequená-lo ou subestimá-lo.

                   Aviltado e distorcido em seu valor intrínseco, o sexo transformou-se no “Cabo Horne” de nossas experiências cotidianas, o mar proceloso da epopéia multimilenar do homem, onde costumam soçobrar as naus encantadas de nossos sonhos e fantasias mais acalentadas, com longos períodos de frustração, desalento e desarmonia, por comprometer nossa estrutura perispiritual, a par de proporcionar aqueles fugazes e naturais momentos de prazer físico.   

                   Criado para as emoções superiores na construção das nossas vidas, o sexo é fator decisivo na execução do processo reencarnatório dos Espíritos.  Jorge Andréa, em “Forças Sexuais da Alma”, cap. V, lembra que “o contato sexual, desenvolvendo energias imensas entre os cônjuges, de suas muitas finalidades teria o fim precípuo da atração do Espírito reencarnante”.  Ao apresentar-se para a nova experiência, o Espírito traz consigo toda a sua carga de créditos e débitos, na visão cármica da realidade.  Com isso, destacam-se suas tendências e a problemática que ostenta no campo do sexo. 

                   André Luiz, já citado, em “No Mundo Maior”, cap. XI, reitera o ensinamento de que “a sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização”.   Por isso, quando nos deparamos com os desajustes de quem quer que seja, na área sexual, devemos nos reportar acima de tudo ao Espírito para encontrar-lhe a causa real, e não à organização física através da qual ele se manifesta.  “Sabemos hoje com segurança que a sexualidade é um sistema de polaridade não adstrito à forma específica do aparelho sexual” (em seu duplo modo de manifestar-se:  masculino e feminino), diz J. Herculano Pires, em “Mediunidade”, cap. VIII.

                   Em verdade, Deus não cria Espíritos masculinos e Espíritos femininos em separado, ou seja, não há Espíritos e Espíritas.  Deus cria todos iguais, com a bissexualidade em potencial.  Por isso, os Espíritos disseram, em O Livro dos Espíritos, perg. 201, “são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres”, ensinamento reiterado na perg. 822 da obra principal da Codificação Espírita.  Para isso, pesam as tendências, acentuadamente masculinas ou femininas, adquiridas ao longo das experiências multimilenares de cada um. 

                   Damos, aqui, a palavra ao Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no prefácio de “Sexo e Obsessão”, onde ele diz que, “assexuado, o Espírito renasce numa como noutra polaridade, a fim de adquirir experiências e compreensão de deveres, que são pertinentes a ambos os sexos.  A intrepidez masculina e a docilidade feminina são capítulos que dão ao Espírito equilíbrio e harmonia”.

                   Isso significa que um Espírito não permanecerá sempre como o ser masculino ou o ser feminino que o caracterizam num dado momento da sua caminhada evolutiva.  Contudo a mudança de sexo não se constitui numa escolha aleatória ou caprichosa do indivíduo, mas se dará sempre na medida da necessidade de aprendizado de cada um, seja por imposição evolutiva, seja por razões cármicas e decorrentes do mau uso dessa força em suas passadas existências.  No mundo espiritual, despojado da matéria mais grosseira e limitadora, o ser possui maior capacidade de avaliação e escolha, planejando as suas encarnações mesmo com as dificuldades que lhe sejam mais favoráveis, prescindindo das ilusões do mundo e dos enganos próprios do homem.

                   Emmanuel, encarecendo o valor do sexo, diz-nos o que o seu exercício impõe:  “O sexo se define, desse modo, por atributo não apenas respeitável mas profundamente santo da Natureza, exigindo educação e controle”  (Vida e Sexo, cap. 1).  Até que se chegue a esse nível de nobreza, todavia, o ser atravessa a “selva selvaggia” dos maus hábitos e abusos, transformando a questão sexual muitas vezes em sua pedra de tropeço, a exigir correção e aperfeiçoamento.  É assim que, de equívoco em equívoco, de disvirtuamento em disvirtuamento, incorremos nas anomalias, desvios, distúrbios, distonias e aberrações do sexo, que acabam por revelar o estado em que nos encontramos na árdua linha da ascensão espiritual.

                   As ciências humanas costumam formar os conceitos de normalidade e anormalidade em cada campo de sua atuação.  No entanto, esses mesmos conceitos têm um valor puramente relativo em relação ao Espírito, que é herdeiro de si mesmo, de sua grandeza ou de sua inferioridade, ostentando problemática temporária e corrigível. Por isso, as denominações em geral são exclusivamente humanas.  Temos, então, relacionado com as formas de manifestação do sexo, heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade.  Joanna de Ângelis, ao comentar essa classificação, diz que “transexualidade ou homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade e assexualidade que se exteriorizam no campo da forma ou nas sutis engrenagens da psique têm suas nascentes e funções nas tecelagens do espírito.”  (Estudos Espíritas, cap. 6).

                   Dentro desse quadro genérico e bastante amplo, o Espírito ostenta uma problemática vasta e bem definida pelas ciências do homem, de acordo com as características específicas de comportamento que apresenta na vida de relação.  É assim que, no quadro dos distúrbios sexuais, temos o narcisismo, o erotismo, o fetichismo, o pigmalionismo, o exibicionismo, o voyeurismo e a ninfomania.  No âmbito das consideradas anomalias do sexo, despontam a prostituição, o sadomasoquismo, a necrofilia, a pedofilia, a sodomia, o vampirismo e o bestialismo.  Dentre as psicopatologias, encontram-se o complexo de édiplo, o complexo de electra, a coitofobia, o incesto, o complexo de cinderela e o complexo de peter pan.  Como distonias, classificam-se o intersexualismo, o transexualismo e o homossexualismo.  Os casos em que o indivíduo apresenta uma duplicidade de caráter são o hermafroditismo, o transexualismo, o intersexualismo e a androginia.  Já os casos cirúrgicos denominam-se orquidectomia, transgenitalismo e implante.  Contudo, todas essas denominações não esgotam o elenco de problemas envolvendo a sexualidade humana.

                   Manoel Philomeno de Miranda, na obra já citada, diz que “desvios sexuais, aberrações nas práticas do sexo, condutas extravagantes e desarticuladoras das funções estabelecidas pelas Leis da Vida, geram perturbações de longo curso, que não se recompõem com facilidade, senão ao largo de dolorosas reencarnações expungitivas e purificadoras”.  Daí o quadro complexo de problemas vividos pelo homem no mundo, de etiologia muitas vezes obscura aos olhos dos profissionais mais categorizados.  Afrontando as leis naturais, o Espírito sujeita-se a todo um cenário de dores e frustrações que lhe transtornam o existir.  Como encarar o problema?

                   Em “O Homem Integral”, cap. 7, Joanna de Ângelis assevera que “os problemas sexuais, por isso mesmo, devem ser enfrentados sem hipocrisia, nem cinismo, fora de padrões estereotipados por falsa moralidade, tampouco levados à conta de pequeno significado.  São dificuldades, e, como tais, merecem consideração, tempo e ação especializada.”  Portanto, qualquer que seja a problemática enfrentada, deve o indivíduo aprender a lidar com ela da forma mais nobre e adequada às suas necessidades de aprendizado e correção, consciente de que é o único artífice da sua felicidade ou infelicidade.  A reencarnação é apenas a oportunidade bendita de equacionar a problemática trazida do passado dentro de um novo contexto.

                   Jorge Andréa, na obra já citada, cap. V, lembra que “o sexo é organização específica por onde os mecanismos de sublimação podem dar-se e, também, por onde o amor favorece os impulsos que buscam sempre o equilíbrio das emoções.”  O sexo é uma das grandes forças da alma, assim como a vontade e o sentimento, por exemplo, que Deus outorgou ao ser inteligente da Criação para servir de canal às suas grandes realizações, à transcendência e ao aperfeiçoamento.  Logo, deve ser utilizado de forma correta e na medida exata das exigências de cada experiência.  Se um indivíduo encarna em corpo masculino, embora trazendo os traços da feminilidade que o caracterizaram por um tempo imensurável, deve procurar adaptar-se ao novo corpo que ele mesmo produziu e não conformar o corpo à sua mentalidade por meio das técnicas cirúrgicas disponíveis na atualidade, como no caso do transexualismo.

                   O sexo é uma força natural, portanto, que nada tem de pecaminoso.  O conceito de pecado, aliás, ligado ao sexo, é de origem puramente religiosa, criado para manipulação das consciências e alimentação do sentimento de culpa, que tão facilmente emerge no Espírito imperfeito que ainda somos.  Os Espíritos, na verdade, não têm sexo como nós o entendemos, pois ele depende de uma condição orgânica (L.E., perg. 200), que somente o homem possui.  E não têm essa espécie de sexo, orgânico, instrumental, genital, pois que ele é inútil na erraticidade.

                   Reportando-se a essa condição, Kardec ensina que “os sexos só existem no organismo.  São necessários à reprodução dos seres materiais.  Mas, os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão porque os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.”  (Rev. Esp., janeiro de 1866, p. 3).  É isso, com outras palavras, o que está dito na perg. 822 do L.E. já citada.  Portanto, não se pode pensar em práticas sexuais entre os Espíritos, da mesma forma que as há entre os homens.  “O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito”, diz o E.S.E., cap. XIV, n. 8.  
                    A benfeitora Joanna de Ângelis acentua que “o corpo produz o corpo, que é herdeiro de muitos caracteres ancestrais da família, que sofre as ocorrências ambientais, mas só o Espírito produz o caráter, as tendências, as qualidades morais, as realizações intelectuais, o destino...” Como imaginar, assim, que haja casamento, ato sexual, gravidez ou até aborto no mundo espiritual?  Esses conceitos seriam no mínimo anti-doutrinários.

                   Ademais, consoante já dito, “não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo.  Mas, quanto ao Espírito, à alma, o ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de alma.” (Kardec, in Revista Espírita citada, p. 4).  O que isso tem a ver com a homossexualidade, que se caracteriza basicamente pela tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo e não tem uma explicação plausível em face das correntes psicológicas do mundo, de caráter essencialmente materialistas?  Teria ela origem nessa igualdade entre os Espíritos?  Absolutamente, não.

                   A homossexualidade, em verdade, “é a mais severa de todas as distonias, seja pelas causas, seja pelas consequências imediatas e de longo prazo que acarretam”, diz Francisco A. Gabilan em “Macho, Fêmea etc.”, cap. 15.  Somente a lei da reencarnação é capaz de explicar o fenômeno, mostrando que não se trata de uma anomalia da Criação divina.  Sendo o Espírito um ser in itinere, uma “individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa”, diz Emmanuel em “Vida e Sexo, cap. 21, manifesta sempre as características mais marcantes do seu caráter, independentemente do corpo que ostente num dado momento.

                   Por outro lado, aquele que abusa das suas energias genésicas, causando dor e sofrimento, traumas e desespero, destruição e morte a todos aqueles que lhe cruzam o caminho, vê-se na contingência de passar por experiências no corpo morfológico masculino ou feminino, oposto às suas características de comportamento, para proceder ao reajuste dos seus próprios sentimentos.  Assim também, os que se candidatam a uma existência missionária, e que trazem características acentuadamente masculinas ou femininas, podem pedir aos seus instrutores espirituais que os assistam no planejamento da sua própria encarnação, ocultando-se num corpo carnal de polaridade diferente daquela que os distingue, de modo a não “caírem em tentação”.  Por isso, sabemos que não é a carne que é fraca, mas o Espírito, com suas tendências e imperfeições.  Em tudo e por tudo, o Espírito que ostenta a problemática é o único responsável por ela.  Não se pode, por isso, dizer que um indivíduo é homossexual, por exemplo, devido à influência espiritual de que seja suposta vítima...

                   Enfim, Joanna de Ângelis ensina, com muita sabedoria, que “sexo, em si mesmo, sem os condimentos do amor, é impulso violento e fugaz”, em “Amor, Imbatível Amor”, cap. 1, que transtorna a vida do próprio amante, antes de macular a do outro.  Por isso, “educar o sexo, mediante conveniente disciplina mental é o desafio para a felicidade, que todos enfrentam e devem vencer.”, diz ela em outra página memorável, in “Dias Gloriosos”, cap. 14.  O sexo é, e será sempre, uma força criadora, modeladora e enriquecedora da alma, que exige educação e respeito, ética e responsabilidade, para que dê os frutos mais preciosos e estimulantes.

                   Somente à luz da Doutrina Espírita, a sexualidade conquista o seu nobre valor, por destacar-se a sua origem:  o sexo localiza-se no Espírito e não na aparelhagem genital, na força hormonal ou na carga energética do indivíduo...

                   Lembrando, na Introdução do “Vida e Sexo”, que “a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”, Emmanuel arremata o seu estudo com estas palavras sábias:

                   “Se alguém vos parece cair, sob enganos do sentimento, silenciai e esperai!  Se alguém se vos afigura tombar em deliquência, por desvarios do coração, esperai e silenciai!...

                   Calai os vossos possíveis libelos, ante as supostas culpas alheias, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e desequilíbrios dos outros.”  (cap. 26).